Depois de despedida do programa 1, 2, 3, a Bota Botilde pensou em pendurar as botas... Sem dinheiro, decidiu pedir ajuda ao seu amigo e companheiro de apresentação do concurso, Carlos Cruz... Para o pedido não parecer mal, convidou Carlos para ir jantar fora...
No decorrer da refeição, Botilde não conseguia ir directa ao assunto tal era a sua vergonha... Farto de rodeios, Carlos Cruz interrompe o seu arroz de miúdos e resmunga:
- Botilde, vai directa ao assunto!!! Pareces uma criança que conhecia no outro dia!!! Tenho pressa!!! Tenho de ir a Elvas... Não posso ficar aqui a noite toda... Não trouxe guarda-chuva e não tarda a cair chuva miudinha...
Bota (que, para quem não sabe, era o seu primeiro nome) decide então pedir dinheiro emprestado para recompor a sua vida... Carlos responde-lhe que naquele momento não a podia ajudar... Que estava a pagar a sua casa e tinha comprado uma pia para o Cachopo, o seu cão... Deu-lhe apenas as moedas que tinha na carteira naquela altura: uns trocos, umas moedas miúdas que nem davam para comprar um pastel de nata e um garoto...
A vida pregara-lhe uma rasteira... Triste, Bota Botilde decide dar à sola dali e fazer algo pela sua vida... Passou várias noites no chão... Dormindo em todo o lado... Desde paragens de autocarro, até em caixas de cartão... Não tomava banho há várias semanas... Era um cheiro a chulé que ninguém chegava ao pé dela...
Apesar de triste, e sempre cabisbaixa, com os olhos no chão, Botilde não sabia que a vida lhe iria sorrir de novo...
Um dia, enquanto andava pela calçada, tropeçou num chinelo... Um grande (tamanho 44), bonito e rico chinelo... Um chinelo de quarto presidencial... Um daqueles chinelos tão rico que passava a vida em casa e só saía à rua para buscar o correio... Para melhorar a sua vida, decide abordá-lo... O chinelo, depois de Botilde lhe ter dado um bocadinho de graxa, começa a dar-lhe conversa... Conversa puxa conversa, começaram a andar...
Formavam um lindo par...
Botilde sempre tentava sacar uns trocos ao namorado, mas o Chinelo era um atadinho...
Casaram... Deram o nó... Botilde, depois de ao longo dos anos ter feito umas poupanças, decide investir o seu pé de meia para concretizar um sonho: abrir uma sapataria... Abriu os cordões à bolsa e hoje em dia é dona de um grande império de lojas... A sua fama é tão grande que muita gente lhe beija os pés... É tão grande conhecida que um dia tomou uma decisão: candidatar-se à junta de freguesia da sua terra natal... (por falar em Natal, Botilde tinha uma meia que todos os anos pendurava na lareira à espera de presentes) Uma freguesia do norte... Uma aldeia onde toda a gente tinha sotaque... Na eleição, pisou todos os adversários... Todos os habitantes da terriola "botaram", como lá se dizia, em Botilde...
Botilde era feliz!!! Estava contente com o seu casamento e a sua carreira...
Mas, como se sabe, toda a felicidade tem um fim... Também Bota não escapou a este destino... O seu marido descobriu que esta o traia... Descobriu quando, numa certa noite em que este chegara tarde do trabalho, encontrou um sapato escondido no armário do calçado...
- Porquê que me fizeste isto??? - questionou o marido, triste e revoltado...
- Estou calçada de ti!!! Este sapato dá-me mais do que tu!!! Olha bem para ele!!! Não é barrigudo como tu!!! É um sapato com classe!!! É um sapato de salto alto!!!
Botilde, como vulgarmente se costuma dizer, "pôs os patins ao marido"... Deu-lhe com os pés... Deu-lhe corda aos sapatos...
Botilde e o sapato ficaram então juntos... Ao contrário do que se passara na relação com o chinelo, Botilde nunca se fartara do sapato... O seu salto agulha dava-lhe uma certa pica...
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