Terminada a semana de praxes, chega a hora de ser feito o rescaldo de todas as brincadeiras realizadas…
Como é (mais que) normal, a semana não foi perfeita: existiram coisas boas e coisas menos boas… Existem sempre aqueles veteranos que utilizam as praxes como forma de subirem a sua auto-estima… Abusam, claro que abusam… Não mandam em casa e, tendo então esta oportunidade de serem os grandes manda-chuvas de umas dezenas de moços, fazem tudo para que o seu diminuto ego saia valorizado…
Pessoalmente defendo que as praxes devem ser apenas um conjunto de brincadeiras dirigidas à inserção dos caloiros no seio do grupo já existente… Isto é, estes jogos devem ter sempre duas premissas: a inclusão do novo aluno e a ideia de que este tem de fazer algo para pertencer ao grupo, não é simplesmente chegar, ver e vencer…
Em relação às praxes abusivas, isso é um tanto ou quanto relativo pois, o que para um aluno pode ser demasiadamente excessivo, para outro pode ser algo banal… Aí entra uma coisa que, e ainda por cima numa escola de enfermagem, os veteranos deviam ter: capacidade de análise através da observação ou seja, saberem medir até onde vai o à vontade de cada caloiro… Para além disso, há outra coisa que já me faz confusão desde a minha praxe: a falta de originalidade acompanhada pela impaciência… Quero com isto dizer que quando um veterano não tem ideias para um jogo engraçado, este deve simplesmente parar de praxar… Não é lógico??? É que, como vi nos últimos três anos, nessa situação o veterano tende a mandar o caloiro fazer coisas que, enfim, abusam da falta de criatividade: cantar, dançar, olhar para o chão, encher… Principalmente esta última… É que há gente que quer ser enfermeira e que se limita a auto-brincar (porque aquilo apenas tem graça para o próprio) com o esforço físico e sacrifício dos pobres novatos… Depois ainda são os primeiros a admirar-se de que os caloiros não comunicam os seus problemas… Que coisa mais lógica!!! Então se passam a vida a gritar com os moços, é normal que estes ganhem uma espécie de receio em relação à malta trajada… Certo??? Esse receio logicamente impedirá a comunicação entre as partes… Chegam mesmo a haver casos de caloiros que mal conseguem caminhar devido a tanto terem enchido…
E como é que estes veteranos justificam estes seus actos sádicos??? Enfim, utilizam o mais reles e básico argumento: “Ah e tal também fizeram isso comigo… Também tenho de o fazer aos outros…”
Xiça, como é que alguém que quer ser enfermeiro pode dizer uma coisa destas??? Utilizando um contra-argumento do mesmo nível: se tivessem sido apedrejados na vossa praxe, também iam andar a arremessar calhaus aos vossos caloiros???
Mas são estes os enfermeiros que vamos ter daqui a uns anos nos nossos hospitais??? É que se sim, até eu próprio terei medo de me dirigir a um hospital…
Não sou contra o encher, apenas acho que deviam utilizar esta técnica como forma de “controlar” o caloiro, passo a explicar: por vezes há caloiros que não respeitam ninguém… Há caloiros que chegam às praxes e querem continuar com as regras que têm em casa: eu quero, eu posso e eu mando… Nessas situações o veterano sim, deve mostrar quem manda, deve mostrar que tem de haver respeito, que as praxes não são (ou melhor, não deveriam ser) um capricho dos trajados… São sim uma tradição que facilita a inserção…
Como toda a história tem uma introdução, acabo assim a minha… Este texto servirá então como nota introdutória aos relatos felizes que irão ver nos próximos posts desta rubrica…
Fiquem atentos…
Fiquem atentos…